Tenho vindo a questionar-me profundamente, há mais de 15 anos, por que razão é que tantos mencionam que Portugal é um país de empreendedores mas no final de contas nos vemos sempre a braços com crises constantes, e corolário de outras crises. Crises menores e mais inconsequentes; crises que apenas são crises porque o fado português não nos permite que as gozemos de forma efusiva; e, por longo tempo, as “não crises” que ora bem analisadas e relacionadas consistiriam em crises; e até à ultima e faraónica dita que quase nos retirou da cauda da Europa e nos remeteu ao seu apêndice.
Lembro-me de
algumas delas! Lembro-me da crise pós Golfo que retirou mercado a muitas das
empresas portuguesas cujos empreendedores haviam rumado às Arábias, tirando
partido das suas semelhanças, para lhes mostrar que em Portugal se empreendiam
os seus maravilhosos luxos. Lembro-me da crise dos empreendedores agrícolas,
que cultivavam para que das raízes emergissem frutos, e que mais tarde
receberam indemnizações para conseguir levar a cabo o empreendimento de imergir
esses mesmos frutos nas suas raízes. Lembro-me da crise dos têxteis, do
calçado, das crises do petróleo - ouro negro que ainda temos esperança de
encontrar -, da primeira crise que nos apresentou ao FMI, e da mais recente em
que os mesmos nos trazem o Céu e o Inferno. Também da crise do Imobiliário e da
crise da emigração massiva, que nos fez lucrar com riens e camones que nos alimentam hoje parte do nosso
empreendimento turístico. Foram tantas as crises, que nem sei como é que ainda
subsistem os tão comentados empreendedores! Mas eles subsistem e em número imenso!
Valeram-me, não
apenas, a sabedoria das multi-décadas de vida como também as múltiplas
experiências da minha mais recente via profissional. E, conjugadas as mesmas,
cheguei lá!
Percebi que existem dois tipos de empreendedores: os “tipo protões” e os “tipo electrões”.
Percebi que existem dois tipos de empreendedores: os “tipo protões” e os “tipo electrões”.
Percebi que
estamos rodeados de alguns Protões, de carga positiva por definição, sendo muitos
deles tão sobejamente conhecidos e poderosos que poderiam até ser confundidos com Glutões®. São
estes os empresários empreendedores! Que têm ideias e que as põem em prática,
rodeando-se de capital humano de qualidade, que as fazem crescer, que as
reinventam de modo a que continuem a gerar riqueza e que não se rendem às
crises.
Percebi também,
no entanto, que estamos imensamente rodeados de muitíssimos Electrões, os tais
da carga negativa, porém muito mais subtis em presença, mais sub-reptícios na essência, e providos
de uma quase-oculta ciência de empreendimento. Descobri-os nas câmaras e nos
institutos da regulação do disto-e-daquilo, nos concelhos e nas associações do
sabe-se-lá-o-quê, nas freguesias e nas ordens do não-sei-onde. Estes Electrões
são empreendedores porque empreendem com quase todos os nossos actos que se
cruzem com a sua passiva existência. Empreendem porque lhes tiramos a hora do
tricot, do café, da pausa e da conversa do lado. Empreendem porque lhes pedimos
que, na sua génese, levem a cabo tão somente apenas aquilo que lhes foi atribuído. Empreendem com quem empreende.
Ora, uma vez que os
Electrões da nossa sociedade são superiores, em número, aos Protões, seremos
continuamente levados por uma corrente negativa até ao dia em que o FMI, a
Troika ou outro qualquer "mecenas" nos empreste a longo termo alguns dos seus Protões. Senão tivermos essa sorte, só nos resta que a Ciência altere as suas leis.
By Dora P
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