19.12.16

World War III







Há 15 anos iniciou-se uma nova Guerra Mundial. Não tem os contornos que nos habituamos a definir para uma maldade que se alastra ao mundo todo e aos seus recantos, e por isso não nos demos conta dela.
 

Chegou num bang devastador, demolidor, atroz e assassino mas com ar de primeiro e último. Enganámo-nos. Foi, sim, o primeiro de muitos que queremos últimos mas são apenas mais um. 

E, desde então, à medida que o tempo acomodou o ódio crescente dos homens, a moda das maldades somou-se, multiplicou-se até que se instalou.
 

Hoje o ódio transformado em terror vive numa esquina oculta de cada e qualquer cidade do mundo que se julga em paz mas está em guerra. 
  

By Dora P  

Pelas gentes que sucumbiram em Nova Iorque, em Paris, em Ancara, em Sinai, em Gazientep, em Nice, em Ouagadougou, em Charsada, em Istambul, no Cairo, em Bruxelas, em Jacarta, em Orlando, em Saint Étienne du Rouvray, em Berlin... e por todos os que ainda estão para pertencer a esta lista enquanto o Homem não se despedir do ódio.

7.12.16

Love, Long, Miss
















I Love,

Love your caring words
   and your fever passion
Love your glowing eyes
   and your addict attraction
Love your heart, your brains
   your light, your smile, your heat
For I do love you!

I Long,

Long your reckless terms
   and your flesh on fire
Long your warm embrace 
   and your sweat of desire
Long your heart, your veins, 
   your hands, your arms, your chest    
For you, my love, I long!

I miss,

Miss your tender look
   and your smooth lips
Miss your soft hair
   and your deep kiss
Miss your heart, your scent
   your voice, your skin, your touch
For it is you I do miss...    

By Dora P

O Arrumador Luso







Extingue-se tanta espécie por este mundo fora e não se extingue a espécie do Arrumador Luso!

Não consultei qualquer especialista em investigação nestas matérias, mas aposto que esta espécie é, a léguas, a mais resistente de todas as demais da fauna portuguesa. Confio apenas no meu poder de observação, que faço diariamente, enquanto tento fintar os vários espécimes arrumadores que deambulam na frente da minha máquina, e extrapolo. Concluo, com muita segurança até, que quem dera ao Lince Ibérico estar tão de pedra e cal como o Arrumador Luso!
 

O Arrumador Luso perpetua-se há décadas e constato que resiste a todas as intempéries, crises económicas, reorganizações urbanas e até à redução da taxa de natalidade. Alvitro até que, perante catástrofes e conflitos mundiais, o Arrumador Luso há-de lá ter geneticamente gravada uma forma de se manter em quantidade abundante, e até mesmo de se reproduzir em maior número.

Quando está sol, envergando boné de pala virado para o lado ou para trás - e nunca para a frente pois isso é coisa para presas de espécies protegidas - o Arrumador Luso surge por entre as esquinas das tais máquinas já estacionadas, de porte enérgico animado pelo sol. Imbuído dessa energia, lá vai ele esbracejando como se Darwin já tivesse previsto que esta espécie, um dia, se sobreporia à do Polícia Sinaleiro, enviando ordens aos condutores-presa que nunca conseguiriam estacionar as suas máquinas não fora a mestria do experiente Arrumador Luso para os guiar. Repare-se que o Policia Sinaleiro é actualmente uma espécie protegida, que apenas se pode encontrar em áreas delimitadas, como junto à ponte D.Maria, no Porto, ou em Caneças, mesmo lá no meio da terra, e dizem que há um em Lisboa mas eu nunca o vi. São em tão escassa quantidade que qualquer Arrumador Luso os consegue contar sem o recurso aos seus próprios dedos. Se chove, cauteloso pela sua sobrevivência, o Arrumador Luso recolhe à sua toca e lá permanece enroladinho até que os raios de sol o voltem a chamar. Relembro que estes arrumadores tentam sempre que as suas tocas sejam desconhecidas para evitar ataques de espécies que possam ameaçar a sua existência, tais como Fiscais das Finanças ou Procuradores do Ministério Público.

Nas crises económicas o Arrumador Luso surge reforçado. Apesar de se subtrairem os condutores a circular pelas ruas, ele multiplica-se. Na verdade, nessas épocas, embora por um lado se observem menos presas, por outro lado elas são mais fáceis de caçar; numas vezes em troca de habilidades e noutras simplesmente porque esta é uma espécie que há que preservar, levando a que as presas se lhes entreguem a troco das suas palavras falaciosas.

As reorganizações urbanas, até hoje, não foram suficientes para afectar a presença do Arrumador Luso no habitat citadino. Quando abundavam no Santa Maria, vieram os parquímetros e os parques pagos e logo o Arrumador rumou para o Rego e para a Praça de Espanha. Quando abundavam na Feira Popular, vieram os buldozers e fecharam aquilo, obrigando o Arrumador a mais uma manobra nómada instalando-se nas noites de Santos e das Docas. Quando acabou a Expo, época em que escasseavam arrumadores em função das reais necessidades do ecossistema, eis que, a conta gotas e depois a jorros, foram surgindo circos e festivais a abarrotar das tais presas. Note-se que este tipo de habitat não escasseia - o Festival - pois apresenta-se imune a apertos de cinto, já que há sempre a lata no fundo do roupeiro onde, durante o ano, as presas guardam as pretas para amealhar para a manutenção desse tipo de habitat. Ai, sim, que o festival é que lhes anima o ano quando ele vai a meio! Assim, quando a coisa do ânimo já vai em esmorecimento em queda livre, vem o fresco festival e tudo anima e reanima até ao Natal!

Mas o que realmente tenho mais dificuldade é em explicar a subsistência do Arrumador Luso quando já nem nasce uma presa criança por cada par de progenitores. Será porque essa espécie acopla menos e por isso sai mais à rua nas suas máquinas? Talvez... Trata-se ainda de uma hipótese porque a minha observação é escassa nessa matéria.

E assim passam os tempos e eu, fazendo parte dessa espécie de presas, tenho de ir sobrevivendo à sobranceira sabedoria do Arrumador Luso para me dizer que é mais para trás ou para a frente, quando só posso andar para trás ou para a frente; para me dizer que é à direita quando não consigo vislumbrar nenhum lugar à esquerda; para me dizer que venha venha venha mesmo que eu indo me espete em qualquer lado; e para me dizer se devo ter ou não ter espaço para sair da máquina pela minha porta ou se devo contorcer-me até ao banco do pendura para sair pela única que abre pois, caso contrário, ele perde uma caçada extra.

Mas tenho uma esperança. Uma, não! Duas, até, e em simultâneo! Com a chegada das tais máquinas "self-driven", acabam-se as presas já que os condutores deixam de o ser e os sensores electrónicos da máquina não têm boca, olhos nem carteira. 


Mas eu não desejo mal ao Arrumador Luso e não quero que lhe falte alimento nem abrigo. E, por isso, creio num futuro em que esta espécie recolhe as moedas que seriam para o parquímetro, e dá uma percentagem à EMEL. Pelo seu lado o Emílio (ou sapo, para outros), passa a fiscalizar os arrumadores em vez de multar a presa.

Assim, tudo se resolve sem prejuízo para o bem-estar de qualquer elemento do ecossistema. Assim, o Arrumador Luso apenas cobra e já não dá palpites nem faz aquele ar ameaçador de quem vai riscar a máquina a toda a volta, caso a presa desprotegida não se lhe entregue de peito aberto.

Prevejo que, desta forma, tudo evoluirá em harmonia
(aposto que também estava previsto pelo cientista): a presa ascende a um estado onda paga à mesma mas, ao menos, não é tão acossada; o Emilio também sobe na cadeia passando para um estadio mais complexo, onde passa a predar o Arrumador em vez da presa da base da cadeia alimentar; o Arrumador Luso evolui para a variante em que já não esmifra a paciência à presa mas garante, mais uma vez, que não se extingue.

By Dora P 
após ser acossada por um Arrumador Luso

5.12.16

4hand Sigh
















 "Clouds dye of grey even the bluest of skies
 as rage brings the blues over a set of lies."

  By Dora P


 "The wrath of motherhood is ruthless but loving..."

  By Carla FC

4.12.16

Plans what For


















"Plans?
 What are plans made for but to fuck up our minds
 every time we end up realising 
 it's not in our hands to accomplish them?"

  By Dora P

O Amor segundo Paulo de Tarso

















Sejamos mais serenos para que não se desgaste a paciência
Sejamos mais coração do que razão para que se dissemine o bem
Sejamos mais gratos para que não se desperte a inveja
Sejamos menos incautos para que se minimize o recurso ao perdão

Sejamos mais genuínos para que não se esbata a verdade
Sejamos mais crentes para que não se perca o rumo traçado
Sejamos mais pacientes para que não haja lugar à frustração
Sejamos menos severos para que não seja necessário tudo suportar  

Sejamos amor
para que dele o mundo se inunde!

By Dora P


mood sentido após esta leitura:


"O amor é paciente, é benigno, não é invejoso, não se irrita, alegra-se com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor nunca acaba." 

Excerto da Carta de S. Paulo aos Coríntios

3.12.16

Vô Quim






Decidido, esse Outono seguia já Novembro adentro vestido de Primavera. Vaidoso, havia despido os seus mantos algodão cinza, engalanados de gotas suspensas, e vestido um manto azul brilhante bordado a raios de sol. Cá em baixo, os campos verdejavam sob os montes de folhas douradas e dançavam harmoniosamente ao ritmo suave da brisa que soprava, bailando entre muros desgastados pelos anos de abandono.

A estrada é agora mais estreita do que nunca, o asfalto subiu e os muros encolheram como prova das décadas decorridas. Na maior parte das vezes, o presente, quando se torna passado, tem esta sina de ser engolido pelo futuro.

O portão já não tem porta; o tempo fê-lo evaporar. O caminho de areia e pedras foi submerso; a teimosia da natureza inundou-o. A camioneta onde o meu avô transportara as suas obras e habilidades, já não está estacionada ao largo. Os montes de desperdício, sepulcro do trabalho do passado, escondem as formas que os meus olhos anseiam vislumbrar. O tanque de lodo alvo como neve, que tanto me fascinara em criança pelos perigos que encerrava, já não existe. Como parece já não existir a figueira que outrora fizera as honras à entrada.

- E a casinha? A casinha da oficina? Sugaram-na as décadas também? – Pergunto com saudade do tempo em que visitar o Vô Quim, no local do seu ofício, era o meu programa favorito.

- Vê! Lá ao fundo. A vegetação cresceu tanto que quase a sepultou. – Suspira a minha mãe.

E ela lá está! O tempo quase a devorou, mas ainda restam laivos de telhado e janelas aos quadradinhos, por entre os fios densos e imensos de vegetação. Ao seu lado, uma árvore gigante ergue-se a uma altura inimaginável, surreal, ao mesmo tempo que a imensa folhagem se expande iluminada pelo sol, formando um halo de luz e magia que sai de uma varinha de condão.  

É nesse momento que volto a ser criança, guiada pela grandiosa nogueira que me aguça a perceção de que a dimensão do que nos rodeia é inversamente proporcional à nossa idade. E hoje, e aqui neste lugar que parece acabado de sair do pincel do artista, tudo me parece enorme!

A tal nogueira cresceu tanto que se tornou incontáveis vezes mais alta do que a casinha; o quintal é tão amplo que parece infinito; o silêncio é tão profundo que parece que nada existe para além daquele cenário; e a saudade é tão gigante que já não se chora; já só há lugar às mais belas recordações.     

Corro em passos pequenos e saltitantes pois os pulinhos de alegria que o meu coração dá não me deixam manter os pés à mesma distância do solo. Lá ao fundo está ele. Os braços longuíssimos abertos à espera de me abraçar, as mãos enormes que não veem o momento de me rodopiar no ar, os olhos que sorriem tão intensamente que mesmo lá longe já me fazem saber o quanto ele me ama; com aquele amor especial que só os avós muito especiais nos sabem dar. Aquele amor paciente, sem pressa, que escuta e que contempla porque já sabe que o tempo não corre devagar e, por isso mesmo, os pequenos momentos têm de ser grandes.

O meu avô era o avô mais lindo que eu jamais conheci. E não era por ser o meu; até porque eu bem sei que nós achamos que os nossos são sempre os “mais-tudo”. Era porque tudo no meu avô era mesmo muito bonito! O seu porte alto, escorreito, de passo sereno mesmo quando estava apressado, de gestos brandos mesmo quando estava agitado, de voz quente mesmo quando os momentos exigiam frieza. O rosto aquilino de belas proporções, os olhos de mar e raios de sol, e os cabelos de algodão doce, sempre bem alinhados. Até as luvas e as galochas que usava no trabalho pareciam de festa quando o meu avô as envergava. As mães das minhas amigas, sempre que viam o meu avô pela primeira vez, diziam que parecia um galã do cinema dos seus tempos. E eu enchia o meu peito de orgulho porque sabia que esta seria a sua beleza maior não fora o seu supremo encanto interior tão mais arrebatador.

- Olá minha neta querida! Que bom que me vieste visitar! Como foi o teu dia de escola? – Diz-me o meu avô por entre mimos e sorrisos.

- Foi muito bom, Vô Quim. Hoje, na escola, esbocei um desenho aos quadradinhos em que estavas na oficina a fazer uma linda mesa de pedra que iria enfeitar a casa de Jesus. Foste, então, entregá-la e disseste-Lhe que era um presente feito por ti, porque querias que Ele tivesse uma mesa bonita onde pudesse escrever os desígnios do mundo. Jesus, agradecido, deu-te em troca uma vida mais longa do que a de todos os homens para que pudéssemos fazer companhia um ao outro, enquanto vivêssemos. E assim nem eu jamais teria de me despedir de ti nem tu de mim. Ainda não o acabei mas não vejo a hora de to mostrar!

O Vô Quim fitou-me emocionado, abraçou-me, e após um momento de terno silêncio disse-me:

- Sabes, minha querida? Vou decerto adorar o teu desenho quando mo mostrares, mas não sou só eu que vou ter esse presente. São todos os avós que amam e partilham com intensidade as suas vidas com os seus netos. Nunca terás de te despedir de mim nem eu de ti. Eu viverei sempre perto, mesmo quando estiver longe: umas vezes perto dos teus olhos; outras à distância do teu pensamento; e em todas dentro do teu coração.    

- Que bom, avô! – Exclamei aos pulinhos, enquanto o abraçava, como não podia deixar de ser, vinda a exclamação de uma neta tão irrequieta. - Vamos fazer qualquer coisa para festejar este momento! Vamos juntos apanhar uns figos e tu ensinas-me a abri-los. Assim, sempre que eu comer um figo vais estar perto de mim, no meu pensamento.

- Excelente ideia, minha linda! Vamos que ela deve estar desejosa de adoçar a nossa boca. – Brincou o meu avô.

E lá me vi eu de mão dada com o meu avô “mais-tudo”, até junto da figueira que naquele momento me pareceu tão pequenina que me fez voltar ao presente.

Movida pela saudade que pesa e arrasta o passo, deixo para trás a casinha, percorro os campos dançantes até à saída, passo pelas árvores carregadas de memórias, despeço-me daquele momento tão especial e sinto no coração o meu Vô Quim mais perto do que nunca.

By Dora P