Era uma vez um reino, que não tinha rei nem rainha; não tinha príncipes nem
princesas; nem aias nem súbditos… E nem castelo sequer tinha!
Nele apenas residia um belo prado verdejante, pintalgado aqui e acolá de flores de cores vivas, que aguardava, com esperança, vir um dia
a ser reinado mas de
uma forma diferente. Durante muitos e longos anos ele
aguardou, aguardou, sempre fixado nessa mesma esperança - a de querer ser diferente.
Até que, num certo ano, no final de um Verão quente, algo de diferente surgiu! Pouco a pouco, vindos de
vários lugares, chegaram até ao reino uns pequenos seres, saltitando risonhos e
brincalhões. Uns irrequietos, outros mais tímidos mas todos traziam consigo algo
em comum. Um pequeno cofre, mas… praticamente vazio! Esse cofre tinha-lhes sido concedido, à
nascença, pelos seus pais e teria de ser recheado de diversas riquezas ao longo
das suas vidas.
À medida que se reuniam e descobriam que todos traziam o tal pequeno cofre, quase mágico, questionavam-se os pequenos seres entre si:
E questionavam-se os pequenos seres:
- Mas, se o cofre é tão pequeno, como o encheremos de riqueza? Ouvimos nas
histórias que a riqueza brilha, tilinta, pesa e é de uma imensidão!...
Um dia, em que todos se reuniram para, em conjunto, traçarem um plano que
lhes permitisse encher os seus cofres, eis que aparece uma mestre! Os
pequeninos seres fitaram, de olhos muitos abertos, esta mestre não muito grande
mas seguramente muito maior do que eles, de sardas na face e pele ealourada pelo sol, grandes
olhos verdes, um imenso sorriso e um abraço tão grande que, se lhe apetecesse, poderia
abraçar todos de uma vez só!
- Olá pequeninos! Eu vou ser a vossa mestre e, juntos, iremos encher os vossos
pequenos cofres. E serão tão ricos tão ricos que com tanta abastança reinarão
este lugar!
Durante 4 anos, os pequeninos seres e a sua mestre, puseram mãos à obra até
que finalmente estavam muito mais ricos!
- Mas os cofres continuam vazios – exclamou um deles, meio desanimado.
- Sim, mestre, dizes-nos que estamos mais ricos, mas os nossos cofres
continuam vazios. Não entendemos…
A mestre reuniu, então, todos os pequeninos e desvendou-lhes o segredo
dessa sua riqueza.
- Essa vossa caixinha é mágica! Os vossos olhos não vêm o que lá está
dentro. Só o vosso coração pode sentir essa riqueza. Quando chegaram até mim,
cada uma das vossas caixinhas já trazia um enorme tesouro. O imenso amor dos
vossos pais, e a confiança que depositaram em mim para levar a bom porto a
tarefa de continuar a ajudá-los a encher esse cofre. E foi o que fiz. Enchi o vosso cofre: de conhecimento do muito que vos
rodeia; de curiosidade por descobrir mais; de muita partilha na aquisição desse
saber; de incontáveis novas experiências a cada dia; de descobertas e viagens
que fizemos juntos; de imensos momentos alegres; de outros menos alegres mas
nos quais vos mimei de alma e coração para vos confortar; e, quando senti que
algo vos poderia ameaçar, foi nesse momento que abri o meus braços para vos
abraçar com toda a minha força e vos proteger.
Agora, podem abrir os vossos cofres, fechar os vossos olhos e vão conseguir
sentir todas as dimensões da riqueza adquirida. Ora experimentem.
Os pequeninos seguiram as suas instruções e eis que se ouviu a várias
vozes:
- Sim! Sinto o brilho! O brilho
do olhar da mestre pelo meu entusiasmo!
- Eu sinto o tilintar! O
tilintar da minha gargalhada e da dos meus amigos, no momento de pausa com que
a mestre nos presenteava após os muitos trabalhos.
- E eu sinto o peso! O peso de
tanto saber que trago comigo e que muito dele me foi legado pela mestre.
- E eu… Eu sinto a imensidão! A
imensidão do carinho que senti que a mestre me deu. A mim e a todos os meninos
e meninas.
A mestre, feliz, replicou:
- Pois se conseguem já sentir a vossa riqueza, agora este reino é vosso!
Façam-no melhor que todos os reinos. Pleno de paz, justiça e futuro risonho! E
sabem? Também eu estou mais rica!
A mestre retira do bolso da sua túnica florida um pequeno cofre igualzinho
aos dos meninos e mostra-o a todos. Fecha então os seus olhos e sussurra, com
um sorriso nos lábios:
- Sinto o brilho da vossa
alegria, o tilintar das doces palavras que me dirigem, o peso da saudade de vos
ver partir mesmo sabendo que vos vou rever, e a imensidão dos gestos gratos que
todos me dirigem.
By Dora P
Sem comentários:
Enviar um comentário